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NÓS novel Chapter 51

Manuela.

Já havia passado um mês desde a mudança, até agora tudo estava ocorrendo bem, eu tinha arrumado um emprego aqui na lanchonete perto de casa e trabalhava no turno da tarde e pelo milagre do pai eu estava indo bem no colégio. Estava aprendendo aos poucos sobreviver sozinha, tinha aprendido a lavar roupa, que a casa não se arruma sozinha e que se eu não fizer comida eu morro de fome. Hoje era dia de pré natal, tinha uma consulta marcada às três da tarde e Diego iria comigo como de costume.

Eu daqui uma semana estaria completando 4 meses, estava ansiosa para descobrir o sexo do bebê e a cada dia ficava mais próximo de acontecer. O clima entre eu e Diego estava bom comparado a um tempinho atrás, ele toda semana vinha aqui, trazia coisa para gente comer e as vezes até dormia lá em casa. Estávamos nos dando melhor, não tocamos mais no assunto de eu querer fazer isso sozinha, no fundo eu sabia que ele não aceitava mas deixou isso pra lá. Acontecia as vezes de olhares rápidos, de eu ficar olhando ele fazer carinho na minha barriga e de me pegar observando ele dormir. Apesar de tudo, éramos amigos e estávamos numa relação melhor pelo bebê e nada mais e nada menos do que isso.

Apenas pelo bebê.

Nessa última semana eu andei passando muito mal e parei na emergência umas três vezes, ele me socorreu as duas primeiras vezes e a última foi Alex. Falando no mesmo, ele não saia mais da minha casa, era um hospedeiro praticamente, dizia que ficava lá em casa pra vigiar o bebê porque não ''confiava'' em mim. Alex estava sendo minha maior companhia, ficava igual carrapato na minha barriga e só não foi na consulta com a gente hoje porque teve que trabalhar até tarde.

O que eu tinha feito para merecer isso?

Eu e caio estávamos'' juntos'',não havia contado pra ele da gravidez mas logo ele iria descobrir eu querendo ou não. Não tínhamos nada sério mas nos víamos toda semana, ele me buscava na escola as vezes, eu ia pra casa dele alguns finais de semanas e assim estávamos indo, tudo no sigilo como o de sempre. Meus peitos estavam inchados, maiores que ao normal e a barriguinha de verme já estava querendo aparecer. Não ia demorar muito para eu não conseguir mais esconder e virar alvo de fofoca na escola, já estava me preparando psicologicamente para esse dia. Diego parou o carro em frente a clinica e nós descemos, eu havia comprado uma pastinha e tudo que era referente a gravidez como exames, testes eu colocava na mesma. Fiz minha ficha na recepção, paguei a consulta e esperei ser chamada na salinha junto ao Diego. Ele estava mexendo no celular, digitando algo e meus olhos automaticamente foram na tela do celular. Ele estava conversando com uma Pâmela, demorou pra eu sacar quem era e era a menina que tinha ido no apartamento daquela outra vez.

Não dava a mínima para quem Diego estava, fiquei me perguntando se ele estava com ela mas era apenas por curiosidade, não tinha o porque de bater cabeça com isso se nós não tínhamos nada. Meia hora depois a enfermeira veio me chamar na salinha e eu a segui até a sala da médica.

— Bom dia — disse sorridente ao entrar na sala e a médica retribuiu com um sorriso.

— Manuela Herrera — disse digitando e olhando para o computador — Bom.. vamos lá? — assenti.

Ela me fez uma série de perguntas, como eu estava me sentindo ultimamente, se eu estava me estressando constantemente e eu falei o que tinha me acontecido nessa última semana e ela disse que provavelmente isso teria sido por ansiedade e me passou um calmante fraco pra tomar junto com as vitaminas. Após um tempinho de conversa, chegou a hora da ultra, deitei na maca desabotoando o short e levantando a blusa. Ela passou o gel, após uns minutos começou a passar o aparelho em movimentos circulares.

— Vamos ver como esse mocinho ou mocinha está — rimos.

Ela passava o aparelho tranquilamente em minha barriga e as vezes digitava algo, eu ficava atenta na telinha e nervosa pra saber se ele estava bem ou não. Ela aumentou o volume e o som do coraçãozinho do bebê tomou conta da sala, era a parte que eu mais gostava quando fazia ultrassom. Quando acabou, ela limpou minha barriga e desligou os aparelhos, a foto da ultra só ficava pronta uns minutos depois do término, geralmente eu sempre pegava quando estava indo embora.

— Bom, Manu — coçou a garganta — está tudo bem com o bebê, continue tomando as vitaminas — assenti — e evite estresses, nervosos tudo isso porque mesmo ele estando bem, não significa que sua gravidez deixou de ser de alto risco.

— Obrigada, Doutora — disse me ajeitando e pegando minhas coisas.

Antes de sair ela me entregou a receita do remédio que eu teria que comprar, me orientou de como ele deveria ser administrado e eu deixei a sala. Encontrei Diego no meio do corredor perto da máquina de café segurando um copinho nas mãos.

— E ai? — me olhou e bebericou seu café.

— Está tudo bem com ele — balancei a cabeça e dei um sorriso.

Hoje eu iria ficar até mais tarde no trabalho, como tinha compromisso a Dona liberou umas horinhas a mais pra chegar hoje, nós se dávamos muito bem e ela era gente boa demais, super me entendia pois tinha engravidado na nova também e pior, o pai sumiu e ela teve que encarar tudo sozinha. Diego parou o carro em frente ao portão principal, eu o agradeci e ele deu partida. Entrei em casa jogando tudo no sofá, fui direto tomar um banho para ir para a lanchonete. Era aqui perto de casa, uns dez minutos andando, não tinha necessidade nenhuma de pegar transporte. Eu era a garçonete de lá, era eu e mais um menino, o Eduardo. Ele era muito legal, me ensinou muitas coisas quando comecei até porque não existe pessoa mais atrapalhada que eu.

Vesti minha calça jeans, a blusa da lanchonete que era uma blusa de manga preta, de tecido fino com a logo na frente da camisa e peguei minha bolsa com minhas coisas antes de sair. Passava cumprimentando com sorriso alguns velhinhos que estavam sentados no portão, eu já conhecia eles pois todo dia passava ali e eles sempre estavam no portão no mesmo horário. Cheguei na lanchonete dando seis da noite, cumprimentei o Edu que estava no balcão e fui até o quartinho colocar a touca e o avental. Aqui era muito movimentado mesmo aos dias de semana, eu ficava boba como aqui dava movimento.

Mais um dia de trabalho, me sentia até adulta.

...

Por voltas das uma da manhã eu larguei, a lanchonete fechava meia noite mas nós tínhamos que limpar as coisas antes de ir embora.

— Você tem certeza que não quer que eu te leve até tua casa? — Eduardo perguntou pela milésima vez e eu neguei.

— Eu sempre vou sozinha, ta de boa Dudu, obrigada — sorri e nós nos despedimos com um abraço.

A rua estava deserta como de costume, eu sempre lembrava de Alex falando no meu ouvido que era perigoso eu voltar sozinha nessa rua, que poderia acontecer algo com o bebê e isso só me dava certeza que ele não estava nem ai para mim e só se importava com o bebê.

Esse Alex era uma graça!

Segurando firme minha bolsa fui andando em passos largos até em casa, só deus sabia o quanto meu cu trancava quando passava carro do meu lado ou quando eu escutava barulho de moto no início mas agora eu meio que estava ''acostumada''. Chegando perto da Vila onde eu morava, no outro lado da rua, na esquina havia um homem todo de preto igual ao que eu via as vezes passando por mim, parei e olhei bem para o mesmo, não dava para ver muito seu rosto por causa da sombra que o poste fazia mas sabia que ele olhava na minha direção. Um carro parou do meu lado, estava começando a ficar nervosa quando olhei para o lado e reconheci o carro, era do Alex.

Suspirei de alivio, esse gay de olhos verdes queria me matar.

— O que você tá fazendo aqui uma hora dessa? — perguntei baixo e com a mão no coração — quer me matar de susto?

— Foi mal, loirinha — guardou a chave no bolso — tava na casa de uma mina aqui perto e achei mais perto vim pra cá do que ir pra casa, abre esse portão logo eu quero dormir.

— Você é tão abusado, Alex — abri o portão principal e fomos andando até minha casa.

Cheguei tomando um banho e vestindo meu pijama, Alex dormia no sofá, ele dizia que não queria tirar mais minha privacidade e conforto então preferia dormir na sala. Dei sua coberta e travesseiro e o mesmo tomou um banho e foi dormir.

— Boa noite pra você também, peixinho de vala — gritou na sala.

— Vai tomar no seu cu — gritei na porta do meu quarto antes de fecha-lá.

— Sua grávida agressiva — rimos.

Eu estava exausta, essa rotina de chegar tarde e acordar cedo para o colégio me deixava extramente cansada mas sabia que era por um bem maior. A felicidade que eu senti quando ganhei meu primeiro salário e paguei o aluguel com o mesmo não cabia no peito. Meu pai tinha cortado algumas coisas minhas, ainda continuava pagando meu colégio mas havia bloqueado todos os meus cartões mas graças a Deus tinha feito um e lá tinha somente o meu dinheiro, em relação a contas eu não dependia dele pra nada. Meu salário não era muito, óbvio, eu pagava aluguel e a conta de luz que não vinha muito alta e ainda sobrava pra mim comprar algumas coisinhas pra casa e as vezes, comprar alguns mimos para o bebê que eu via nas lojinhas.

Eu estava bem desse jeito, sentia muita falta de antes mas sabia que seria uma evolução enorme sair da vida fácil e vir pra vida da batalha, que soa pra ter suas coisas.

Era o início de um novo ciclo.

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